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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Duplo

Segundo a teoria psicanalítica, o duplo é recondutível à unheimlich, termo utilizado por Freud para designar algo estranhamente familiar. Para os entendidos no assunto, poderíamos dizer que é o retorno do recalcado. A literatura e o cinema têm vários exemplos de duplos: The strange case of Dr Jekyll and Mr Hyde, Dorian Gray, alguns personagens de Buñuel como no filme A bela da tarde ou de Carlos Saura em Ana e os lobos, os famosos heterônimos de Fernando Pessoa, os personagens de Jorge Luís Borges, enfim, são muitos os exemplos para citarmos todos. No caso da minha produção artística, me dei conta, somente algum tempo depois, que o duplo surgiu especificamente com o ensaio Strangers in hell, strangers in paradise e a partir daí não parou mais de se manifestar e vem assumindo sempre novas faces. Assim, Nina Moscovich seria a autora de To see or not to see, exposição realizada na galeria da Escola Guignard - UEMG - em dezembro de 2011 e composta por 35 monóculos fotográficos, ao passo que Lisa Kaprow desenvolve trabalhos muitas vezes improvisados, que surgem sem nenhum tipo de planejamento. Para aquela, a câmera é um dispositivo de mediação entre si mesma e o mundo, ao passo que para Lisa a câmera é um instrumento que lhe permite fazer da fotografia uma atividade lúdica e descompromissada. http://www.flickr.com/photos/lisakaprow/with/6794952676/ https://picasaweb.google.com/118345650957885192373

Traduzir-se (Ferreira Gullar)

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte ninguém, fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte é uma questão de vida ou morte. Será arte?