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terça-feira, 12 de junho de 2012

Esboços

Mais um esboço que surgiu como uma tempestade em meio ao deserto. Rabiscos, asneiras sem importância que nem eu mesma gostei mas que postei como registro do meu processo de criação. Quem é o outro que nos habita? Por que surgem esses monólogos interiores aparentemente sem nexo? Aos poucos o sem sentido vai ganhando forma. Desdobramentos acontecem quando um texto vira imagem ou vice-versa.

Se eu me chamasse Dolores, teria mil amores para deles me lamentar. Passaria a vida triste, sonhando acordada com príncipe que não existe e morreria sem me casar.
Se eu me chamasse Carmelita teria os olhos esbugalhados e muitas histórias pra contar. Falaria pausadamente, me ateria aos detalhes e todo mundo teria imenso prazer em me escutar.
Se eu me chamasse Adelaide, eu teria as pernas tortas e vinte netos para cuidar.
Mas se eu fosse a Sueli, eu seria cafetina, mulher de traficante com treze filhos de sobrenome "Jesus".
Se eu fosse a Rosalina, seria vizinha do Alfredo e faria o possível para não incomodar. Usaria chinelos de borracha, imprecaria em voz baixa e me esforçaria para não me exaltar.
Mas eu gostaria mesmo era de me chamar Isabel, a misteriosa noiva de Gardel de quem nunca ninguém ouviu falar.
Se eu tivesse um nome composto não teria dúvidas da minha importância na Terra e diria em voz alta : prazer, meu nome é Ana Bella.
Mas se eu me chamasse Jurelda, pertenceria a uma estirpe pouco nobre e teria dívidas para saldar. Tudo na minha vida daria errado e eu não teria um centavo para me assegurar.
Se eu me chamasse Amparo, talvez tivesse origem divina, seria filha de mãe benzedeira.
Mas eu me chamo Nina. Sempre quis ser bailarina, tocadora de pífaros, acrobata de ladeira. Sou fraca dos ossos e não muito boa da cabeça. Filha de imigrantes, ganho o pouco que me basta e não tenho muito o que falar. Prefiro fazer as coisas sozinhas para não ter de quem me queixar. Tem dias que acho esse mundo uma bosta, escrevo insanidades como válvula de escape para não surtar.