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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Texto apresentado para a seleção de exposição na Biblioteca Pública Luiz Bessa

Descrição da proposta
O presente trabalho é constituído por uma mesma imagem impressa inúmeras vezes sobre várias folhas de jornal; minha intenção é apresentar essas imagens lado a lado de modo a dar a ideia de repetição. A escolha do suporte - jornal - aliada ao título - Procura-se - é fundamental para a compreensão da proposta plástica em questão. A meio caminho entre a realidade e a ficção meu objetivo foi o de criar uma ambiguidade que se estabelece a partir da dúvida gerada no espectador, na medida em que o mesmo é colocado diante da imagem de uma criança que lhes é inteiramente anônima. Afinal, quem é esse rosto sem nome que se propõe em uma galeria de arte?
É um trabalho que nasce da imersão no passado através dos caminhos da memória - uma vez que uma foto da própria infância é sempre um lugar a ser revisitado e, se possível, desdobrado - e que se abre para o público na medida em que se oferece não somente enquanto processo de busca por uma identidade individual mas que questiona o lugar da infância na nossa sociedade. Assim, a série Procura-se evoca aspectos da memória da artista sem que, no entanto, tais conteúdos sejam compartilhados com o espectador. Dessa forma, poderia-se dizer que é uma proposta plástica que parte da singularidade da vida da artista para se dissolver nas teias do sistema.
Esse trabalho é uma pequena homenagem que gostaria de fazer a todos aqueles que (des)conheço e que têm ou tiveram uma infância anônima, circundada pelo silêncio e pela indiferença.
Considerações sobre a escolha do suporte
Como minha intenção é trazer à tona questões sobre autoria e anonimato, escolhi o jornal por ser um suporte barato, efêmero, destinado a virar papel de embrulho, a ser jogado fora, enfim, a ser descartado. Na medida em que não é considerado material nobre, me pareceu o mais adequado para abordar tal temática.
Considerações de ordem técnica
Como o ponto de partida para a realização desse trabalho foi a transposição de uma foto de infância para a serigrafia, durante a execução da mesma me ocorreram os seguintes questionamentos: 1) quais as possibilidades de desdobramento de um trabalho? Quantos trabalhos um trabalho contém?
É nesse sentido que venho produzindo na interface da fotografia e da serigrafia. Se penso que outros desdobramentos estão na iminência de acontecer, então essa proposta não é o resultado pleno de um fazer artístico mas algo que se encontra em processo de construção. Portanto, não tenho ainda tal resposta. A priori, penso que um trabalho possa se desdobrar até que se esgote, mas tal limite nunca pode ser estabelecido de antemão. O que existem são projetos ou intenções que, às vezes, mudam de direção.

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